Rosas de Ouro
Rosas de Ouro
A oferta das 'Rosas de Ouro' é a mais alta distinção que os Papas atribuem a santuários, igrejas, cidades e a personalidades da vida pública como soberanos, príncipes e rainhas, em reconhecimento e recompensa por assinalados serviços prestados à Igreja ou a bem da sociedade. Pode considerar-se um grande privilégio.
Começou por ser uma única flor. Com o Papa Sisto IV tomou a forma de um ramo de roseira, completamente em ouro a que se acrescentavam algumas pedras preciosas. É uma simbologia muito apropriada que reflecte a majestade e a paixão de Cristo, a Igreja triunfante e a Igreja militante.
A Bênção e atribuição das 'Rosas de Ouro' decorre, habitualmente, no 4.º Domingo da Quaresma, o chamado Domingo "Laetare" ou seja da Alegria. O Papa procede à bênção revestido dos paramentos cor-de-rosa e com mitra preciosa. Terminada a oração, incensa o bálsamo e o almíscar que coloca no receptáculo do miolo da Rosa, que está colocada numa mesa com velas, e incensa-a e asperge com água benta. O clérigo mais novo da Câmara Apostólica carrega-a na frente do Papa até ao altar onde a coloca ao pé da cruz em cima de um véu de seda rosa. Depois da Missa, é levada em procissão para um lugar que lhe está preparado na Sacristia, até que seja oferecida. É uma tradição que remonta a finais do século VI, princípios do século VII. Foi instituída para solenizar e induzir maior reverência por parte de quem vai receber essa alta distinção. Só depois ela será levada ao seu destinatário ou enviada a um embaixador residente em Roma.
Segundo consta, a distinção 'Rosa de Ouro' surgiu no início da Idade Média. Desconhece-se a data exacta. Há quem diga que é anterior a Carlos Magno (742-814). O Papa Leão IX (1051) fala da 'Rosa de Ouro' como uma instituição já antiga. Seria um costume o Papa oferecer a Rosa de Ouro ao príncipe condecorado, em solene cerimónia, acompanhado pelo Sacro Colégio dos Cardeais. Mais tarde passou a ser oferecida somente a rainhas e princesas.
Depois do Concílio Vaticano II, a condecoração pontifícia passou a ser um presente dos Papas a Nossa Senhora.
Ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima foram já atribuídas três 'Rosas de Ouro'. A primeira foi concedida em 21.11.1964 pelo Papa Paulo VI, no final da terceira sessão do Concílio Vaticano II, depois de promulgada a Constituição "Lumen Gentium" sobre a Igreja, e benzida pelo Sumo Pontífice em 28.03.1965. Disse o Papa que a 'Rosa de Ouro' é o testemunho do paternal afecto pela Nação Portuguesa e penhor da devoção ao Santuário "onde foi levantado à Mãe de Deus um Seu altar". A Rosa esteve exposta na Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma, até ser trazida para Portugal, a 13.05.1965, pelo Cardeal Fernando Cento, legado do Papa, que entregou também uma carta dirigida ao Bispo D. João Pereira Venâncio.
A segunda 'Rosa de Ouro' atribuída ao Santuário de Fátima foi entregue pessoalmente pelo Papa Bento XVI, em 12.05.2010, ajoelhado junto à imagem de Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições. Disse o Papa que a atribuição da segunda 'Rosa de Ouro' é "uma homenagem de gratidão pelas maravilhas que o Omnipotente tem realizado por Vós no coração de tantos que peregrinam. Estou certo de que os Pastorinhos de Fátima, os Beatos Francisco e Jacinta e a Serva de Deus Lúcia de Jesus nos acompanham nesta hora de prece e de júbilo".
A terceira ''Rosa de Ouro' atribuída ao Santuário de Fátima foi entregue por ocasião do Centenário, em 2017, pelo Papa Francisco, no início da sua peregrinação à Cova da Iria, momentos antes de uma oração que fez congregar, em silêncio, a multidão de peregrinos presente no Recinto de Oração do Santuário. Disse o Papa num vídeo onde antecipava a visita ao Santuário de Fátima "Preciso de vos ter comigo. Preciso da vossa união - física ou espiritual, importante é que seja do coração -, para o meu bouquet de flores, a minha Rosa de Ouro, formando um só coração e uma só alma. Entregar-vos-ei todos a Nossa Senhora, pedindo-Lhe para segredar a cada um: O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio, o caminho que te conduzirá até Deus".
O Santuário de Nossa Senhora do Sameiro, em Braga, também recebeu uma 'Rosa de Ouro', em 08.12.2004, atribuída pelo Papa João Paulo II, por ocasião do centenário da coroação da imagem de Nossa Senhora. A entrega da 'Rosa de Ouro' na Basílica de Nossa Senhora da Conceição do Sameiro foi feita pelo Cardeal Eugénio Sales, legado do Papa.
Outras 'Rosas de Ouro' foram oferecidas a soberanos portugueses ou a individualidades e personalidades que os Papas quiseram distinguir. Registamos as seguintes:
Em 1341, o Papa Bento XII atribuiu a Rosa de Ouro a D. Lopo Fernandes Pacheco, rico-homem e conselheiro de D. Afonso IV, pelo seu papel decisivo na vitória da batalha do Salado.
Em 1454, o Papa Nicolau V atribuiu a Rosa de Ouro ao rei D. Afonso V.
Em 1506, o Papa Júlio II atribuiu a Rosa de Ouro ao rei D. Manuel I.
Em 1514, o Papa Leão X atribuiu a Rosa de Ouro ao rei D. Manuel I.
Em 1525, o Papa Clemente VII atribuiu a Rosa de Ouro ao rei D. João III.
Em 1550, o Papa Júlio III atribuiu a Rosa de Ouro ao príncipe D. João de Portugal, filho de D. João III.
Em 1842, o Papa Gregório XVI atribuiu a Rosa de Ouro à rainha D. Maria II.
Em 1849, o Papa Pio IX atribuiu a Rosa de Ouro à rainha D. Maria Pia de Sabóia, no dia do seu baptismo.
Em 1892, o Papa Leão XIII atribuiu a Rosa de Ouro à rainha D. Amélia de Orleães.
Aurora Martins Madaleno